Eu quero ser
Santiago

Eu sempre achei que não valeria muito a pena viver se eu não pudesse ser eu mesmo em minha totalidade; se eu não pudesse ser coerente com o que penso e sinto; se eu não pudesse ser o único responsável pelo controle de minha liberdade. E é por todas essas coisas que eu não pude ser que sou fácil de ser esquecido; que sou pouco ou nada marcante. Sinto-me bloqueado tendo o nome que tenho, vestindo o que visto, relacionando-me com quem me relaciono, dizendo o que querem ouvir, agindo como consideram normal, seguindo o que consideram adequado, portando-me como julgam ser são.

Se não posso ser eu mesmo, se não posso fazer o que me faz feliz, então eu não vivo, só existo como um corpo estranho. Por isso me chamam de sonso e dizem que vivo no mundo da lua - porque eu não sei ser quem eles querem que eu seja, e quando sou quem eu sou mesmo, eles estão lá, prontos para me bloquear com seus egoísmos, suas desimportâncias, seus estranhamentos, seus escudos e suas espadas.

Eu quero transpor essa barreira. Eu tenho que. Ou vou continuar sendo aquele que ouve calado; que fica ao fundo; que está sempre a sombra de; que fica sobre o muro; que não diz a que veio; que passa sem ficar. Eu quero ser grande, enfim, e só o serei se eu puder olhar-me em todos os espelhos do mundo e me reconhecer em cada um deles.

Eu quero ser Santiago

Eu poderia dizer que Santiago é meu alter ego.
Mas vai muito além.
Santiago sou eu mais bonito. Santiago sou eu mais desperto. Santiago sou eu sem vergonha. Santiago sou eu entregue. Santiago sou eu articulado. Santiago sou eu protestando. Santiago sou desvendando-me em público.
Santiago sou eu me evidenciando.
Santiago sou eu valorizado. Santiago sou eu me impondo. Santiago sou eu mil vezes mais sensível.
Santiago é a versão superpoderosa de mim, como Super-Homem é a de Clark Kent e Homem-Aranha é a de Peter Parker, sabe.
Santiago é a realidade do que antes era só desejo, sonho, fantasia.
Santiago sou eu reinventado
Não é outra pessoa.
Santiago sou eu... amplificado.